Escuridão natural para conservar os ecossistemas noturnos
Fotômetros na fase de calibração no Observatório do Teide. Crédito: Alejandra Rueda (IAC).
Após vários meses de espera, este verão começou a implementação das primeiras redes de fotômetros do projecto EELabs, que lidera o Instituto de Astrofísica de Canarias (IAC). Tenerife e La Palma já receberam os primeiros medidores da escuridão do céu noturno e, em Gran Canaria, iniciaram-se as labores de seleção dos locais onde serão instaladas estas pequenas infra-estructuras.
A contaminação luminosa não é um problema exclusivo da Astronomia. A perda da escuridão, devido á Luz Artificial Noturna (LAN), tem um impacto perigoso nos ecossistemas naturais e, através do projeto EELabs, não só vai poder ser quantificada, como também se ponderam medidas para a sua solução.
“Os principais objetivos de EELabs são medir a contaminação luminosa dos ecossistemas naturais protegidos da Macaronésia através de laboratórios de poluição luminosa; criar um mínimo de quatro experiências de poluição luminosa com o objetivo de averiguar cómo se propaga a luz artificial noturna e envolver os mais jovens na procura de soluções a este problema; e ampliar a legislação nos municípios que participarão do proyecto para proteger os ecossistemas noturnos”, enumera Miquel Serra-Ricart, astrônomo do IAC e coordenador do projeto.
EELabs, que se desenvolve através do programa Interreg MAC 2014-2020, medirá a escuridão das noites de, pelo menos, cinco ilhas macaronésicas através de umas infra-estruturas autónomas -e não invasivas- chamadas fotômetros. A instalação destes sensores começou no passado mês de julho no município de Güímar (Tenerife), com a colaboração da Câmara Municipal; e no Observatório del Roque de los Muchachos (Garafía, La Palma) e arredores da Caldera de Taburiente, através do projeto La Palma Smart Island, promovido pelo Cabildo insular de La Palma. Durante o mês de agosto, uma parte da equipa do projecto foi deslocada também a Gran Canaria para se reunir com o presidente de Tejeda, o município que albergará o quinto laboratório de contaminação luminosa, o terceiro nas Canárias.
Este proyecto conta com um importante desenvolvimento tecnológico. Dado que su objetivo é medir o impacto da contaminação luminosa em locais remotos, a empresa canaria de I+D+i Sieltec Canárias foi responsável pelo desenho e fabrico dos fotômetros SG-WAS (SkyGlow-Wireless Autonomous Sensor) partindo do desenvolvimento atingido nos fotômetros TESS no projecto europeu STARS4ALL. Estas infra-estruturas, que medem apenas 10 cm de cada lado, permitirão elaborar mapas da escuridão noturna que abrange as zonas naturais protegidas pela rede Natura 2000 nestas ilhas. Para dar sinal e receber os dados que emitam os fotômetros, o Instituto Tecnológico e de Energias Renováveis (ITER) desenvolverá outra peça chave do projecto: um controlador MINIO completamente autónomo, ideal para oferecer cobertura em locais de difícil acesso.
Da elaboração dos mapas de escuridão noturna encarrega-se a equipa da Universidade das Palmas de Gran Canaria (ULPGC). Através deles poderá se explicar como é que se propaga o brilho das luzes na atmosfera gerando modelos de contaminação luminosa ou LAN (Luz Artificial Nocturna) e permitirão avaliar o impacto da LAN no grupo de aves mais ameaçadas do mundo: as aves marinhas.
¿Cómo ajudará EELabs à proteção das aves?
A contaminação luminosa o LAN é uma das principais ameaças para as populações de aves marinhas na Macaronésia. Em particular, para os exemplares mais jovens de pardelas e painhos, explicam desde a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), outro dos centros que também trabalha em EELabs para minimizar o impacto da luz artificial noturna nas zonas naturais protegidas da Macaronésia. Quando estas aves abandonam o ninho, ficam desorientadas, o que pode levar a colisão contra infra-estruturas, serem atropeladas, a tornarem-se presas de cães e gatos e até perecerem por desidratação. Isso, desde a SPEA, recordam que é essencial a adopção de uma iluminação pública adequada, que tenha em conta a eficiência energética, mas também o impacto na biodiversidade. Para cumprir estes requisitos é extremamente importante avaliar o impacto natural através dos laboratórios de poluição luminosa e criar uma legislação específica contra a contaminação que reduza ao mínimo esta ameaça.
A redacção de regulamentos municipais é um dos objectivos do projecto EElabs, que poderá oferecer orientações sobre a orientação das luminárias (sempre apontando para o solo), sem vidro, para evitar a dispersão da luz, e com temporizadores com menor intensidade nos períodos de saída das aves. Também será proposta a utilização preferencial de lâmpadas de cor quente, amarela ou âmbar de preferência (<3.000K), a colocação de filtros e até mesmo o desligamento de luzes durante estes períodos sensíveis para as aves nas zonas mais críticas.
Além disso, os fotômetros do projecto EElabs permitirão a avaliação do impacto da contaminação luminosa da população adulta de aves marinhas. Ou seja, permitirão compreender se este tipo de contaminação afeta as pardelas cinderelas adultas (a pardela mais abundante que nidifica na Macaronésia) no momento da nidificação. E, em particular, na fase de alimentação das crias, quando há visitas mais regulares às colónias. Ou o que é o mesmo, poderá medir-se se estas visitas estão condicionadas pela iluminação pública, algo que ainda não foi testado nas pardelas.
No caso das aves marinhas macaronésicas, a contaminação luminosa é talvez a ameaça mais fácil de minimizar sobre o grupo de aves mais ameaçadas do planeta e que caracteriza esta região primitiva. Os trabalhos de difusão e sensibilização do projecto EElabs permitirão fomentar o conhecimento das espécies de aves marinhas da Macaronésia, a poluição luminosa e quais são as soluções mais adequadas para mitigar esta ameaça, respondendo à Directiva Aves, a Directiva-Quadro da Estratégia Marinha e a Estratégia de Mitigação da Poluição Luminosa na Macaronésia (em elaboração). Tudo isto, pondo em prática o que foi definido no projecto e trabalhando em conjunto com todas as partes interessadas, desde as administrações regionais e locais até os grupos de ação.
Estes são só os primeiros passos de um projecto que, ao longo dos próximos três anos, pretende sensibilizar para o problema da poluição luminosa e propor que seja possível minimizar o seu impacto na natureza, tirando o máximo partido das novas tecnologias de iluminação.
EELabs (eelabs.eu) é um projecto financiado pelo Programa INTERREG V-A MAC 2014-2020, cofinanciado pelo FEDER (Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional) da União Europeia, sob o contrato número MAC2/4.6d/238. Em EELabs trabalharam 5 centros da Macaronésia (IAC, ITER, UPGC, SPEA-Azores, SPEA-Madeira). O objetivo de EELabs é criar Laboratórios para medir a Eficiência Energética da Luz Artificial Noturna nas zonas naturais protegidas da Macaronésia (Canárias, Madeira e Açores).
Links de interesse:
EELabs: https://www.eelabs.eu/es/home/
Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA): https://www.spea.pt/
Universidad de las Palmas de Gran Canaria (ULPGC): https://www.ulpgc.es/
Instituto Tecnológico y de Energías Renovables (ITER): https://www.iter.es/
Consejería de Nuevas Tecnologías. Cabildo Insular de La Palma:
La Palma Smart Island: http://www.lapalmasmartisland.es/
Ayuntamiento de Güímar: http://guimar.es/
Ayuntamiento de Tejeda: http://tejeda.eu/